[ RP FECHADA] WE ~ DO NOT ~ SOW

O reino da Campina passava por um de seus verões mais quente, onde o sol parecia brigar com a noite para ir se deitar. As plantações verdejavam com saúde sob o clima que favorecia seu desenvolvimento, para celebração daqueles que habitam o reino governado pela família Gardener. A cada ano de paz, as colheitas daquela terra pareciam multiplicar seus frutos, assim como a quantidade de ouro no cofre dos vassalos que ali governavam.

Mas no momento, o sol já havia passado de seu ponto mais alto, então grande parte dos agricultores que vigiavam e zelavam pelos campos ao redor do castelo, já haviam partido até o grande Castelo de Jardim de Cima, para haver sua refeição da hora média.

Mas o jovem Lord Asten Gardener parecia não parecia concordar com a ideia. Ao contrário de todos, decidiu aproveitar a solidão que a hora permitia, e tomando um cavalo de um dos estábulos, o prendeu ao arador de ferro bruto e começou a guia-lo pelo caminho que os trabalhadores haviam começado mais cedo.

O herdeiro caminhava sempre a frente do cavalo. Qualquer um que visse aquela cena poderia confundir o futuro Lord do Reino da Campina com uma criança plebeia. Seus trajes mais finos estavam embolados sob uma arvore. Trajava apenas um calção de algodão escuro e os pés descalços na terra escura. E era exatamente assim que seu pai, Lord Rian Gardener havia lhe ensinado.

“A plantação é mais do que a planta, filho”, dizia sempre o falecido Lord, e essas ecoavam na cabeça do menor, enquanto se abaixava para se livrar de possíveis pedras e tocos maiores que estivessem no caminho, para que não danificar o arador, muito menos o animal que o puxava. O menino sempre havia sido muito ligado ao pai (muito mais do que a mãe), de forma que após a morte do mesmo, a solidão havia se tornado a principal amiga do Gardener mais jovem.

Contudo, Asten sempre conseguia resgatar a memória de seu progenitor através das atividades que costumavam praticar junto. Acompanhar a colheita era uma delas, visto que o antigo Lord ja havia levado o menor diversas vezes para supervisionar as fartas colheitas que o reino ocidental tinha. Ao lembrar de seu pai, Asten segurou o animal para que parasse. “Mostre suas fraquezas, e eles lhe atacaram por ai” dizia o mais velho enquanto vivo. De fato, essa frase foi usada durante uma infestação de gafanhotos, mas sentia que o momento atual era muito propicio para tal afirmação. Não que estivessem sob o ataque de insetos. Se bem que sim, estavam sob ataque de insetos, mas não de plantas.

Mas para o momento, o jovem Lord bateu no cavalo para que o mesmo voltasse para seu rumo. Afinal, Lord Rian não estava mais aqui para terminar o serviço. Porém, mau sabia o menino que o destino não lhe abondaria sozinho para a própria sorte.

O lugar onde estava lhe permitia uma ampla vista da área que circulava o grande castelo da família Gardener. E não muito longe,a oeste, Asten parou seu serviço para acompanhar o grupo de cavaleiros que surgia no horizonte. Em um primeiro momento, pouco significavam, ja que era comum que homens chegassem a todo o momento trazendo noticias para Jardim de Cima. Contudo, conforme se aproximavam, deixavam de ser silhuetas borradas. Ja era possível distinguir que alguns portavam grandes estandartes. E estes estavam decorados com uma grande arvore dourada.

—Lord Rowan? Hum. — murmurou o menino para si, dando ombros. De fato, a casa Rowan tinha comparecido ao enterro de seu pai, mas não havia voltado para algum tipo de bajulação, como era comum que fizessem. Afastando os pensamentos com a mão, o Lord decidiu deixar a encargo de sua mãe e do castelão o Lord recém chegado, mesmo sabendo que uma hora ou outra teria de se encontrar com os visitantes. "Se Lord Rowan quer tanto me ver, que me procure oras!", pensou o jovem com ironia, voltando a seu trabalho.

Não era incomum que comitivas das casas vassalas chegassem a Highgarden com frequência. Visto isso, Asten não deu muita bola para os cavaleiros, e prosseguiu com seu serviço do campo, enquanto sua mãe não enviava nenhum criado para lhe obrigar a retornar ao castelo.

Porém, apesar de ver alguns cavalos indo em direção ao castelo, notou que um cavalo errante se distanciava do grupo. Ao olhar a caravana da casa Rowan novamente, notou que um dos participantes havia se distanciado do grupo e vinha com velocidade em sua direção.

Bom, não havia muito perigo, pois ninguém lhe faria nada ao lado de sua própria casa. Além do mais, que motivo havia? Suas roupas mais finas estavam emboladas discretamente sob uma arvore próxima.  O mais provável era que o cavaleiro desejasse alguma informação sobre o território.

Quanto mais o outro se aproximava, mais nervoso o jovem Lord ficava. Continuou a conduzir o arado pelo campo, fazendo jus ao papel que prestava ali. Contudo, ao ouvir o cavalo parar próximo de onde estava, virou-se para saudar o cavaleiro, mas o mesmo já estava ajoelhado em sua frente.

— Eu, Theodan Rowan, juro minha lealdade, a lealdade da minha e da minha espada para a casa Gardener, até o último de meus dias. — Disse o outro, tão rápido quanto como saiu de sua montaria. Asten encarou o outro com um olhar perdido. A memória do Lord Theodan era fresca em sua mente, havia visto ele e o pai junto diversas vezes, mas com certeza não esperava que o Senhor de Gondeglover aparecesse assim, lhe jurando fidelidade, no meio de uma plantação lameada.

— Lord Rowan! Que, hum. Sim! — Respondeu o menino, sentindo-se perdido e encabulado — Digo, obrigado mi lord, mas fique de pé por favor. — Sua mãe havia lhe cobrado diversas vezes que desse mais atenção as formalidades e rituais que um Lord devia saber, mas oras, que jovem liga para isso?

Mas parecia ter feito algo certo, já que o mais velho se pôs de pé. Asten estava mudo devido ao momento constrangedor, mas graça aos deuses o silêncio foi quebrado pelo maior — Eu sinto muitíssimo, Asten. Por seu pai.

Aquela frase com certeza foi inesperada. Desde a morte do senhor das terras da Campina, nunca mais havia conversado com alguém sobre o tal evento. Sentia-se magoado por ter perdido o pai, com raiva por seu pai ter lhe deixado a tarefa de comandar toda uma nação, mas se sentia sobretudo triste. Triste por não passar mais longas tardes lendo os mapas de Highgarden, ou de passar a cavalo pelas plantações, ou das correções de postura nas aulas de esgrima.

Seus olhos começaram a encher de agua, mas como havia dito um tio do menino no dia da despedida do seu pai: “Um homem não chora, sobretudo um Lord”.

Asten limpou a garganta, e engoliu a seco seus sentimentos. Ergue a cabeça para o lord e acenou firmemente. — Agradeço a compaixão mi lord. Sei que você e meu pai eram amigos, e sei que você é um lord fiel. — Discursou, exatamente as palavras que sua mãe havia dito à algumas semanas, para algum senhor que vinha lhe prestar condolências.

O menor pensou um pouco, o silencio do constrangimento havia atacado novamente. — Então mi Lord, o senhor veio ver a senhora minha mãe? Pois ela está na parte de dentro do castelo. O senhor fez uma longa viagem e deve estar cansado. Insisto que vá realizar suas abluções. — falou o jovem tentando parecer seguro. Porém a verdade era que se a rainha regente descobrisse que Asten encontrou um lord sujo, arando uma fazenda, se camisa e descalço, provavelmente atiraria o filho da torre mais alta que achasse.

O menino queria saber mais sobre a visita do Lord, especialmente por que esse era amigo de seu pai. Mas de maneira nenhuma podia ser visto no estado atual por sua mãe.